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Adolescência: não trave uma guerra com seu filho. Procure entendê-lo!


 

Luciana Ernanny Legey

A adolescência é o momento em que jovem tem como principal tarefa desligar-se dos pais e da autoridade. Ele quer estar fora do círculo vivido em sua infância. Precisa ligar-se a outros para viver como eles vivem. Ter novas companhias. Ser livre. É a partir dessa ruptura que se faz a passagem do universo infantil para o que o levará a torna-se adulto. É mesmo uma nova vida.

É complicado para os adultos em geral entender como isso ocorre, uma vez que a troca de afeto não é como antes, que eles “não são mais os mesmos”… Acaba sendo um momento duro para as famílias.

Por outro lado, muitos adolescentes, por desconhecer esse momento de desconexão entre o infantil e seu novo ser, ainda em metamorfose, recusam o contato físico e usam da palavra com hostilidade para se manifestar. Assim, pais e adultos tendem a sentir-se ofendidos. E desvalorizam o saber que eles estão tentando produzir, cada um a sua maneira.

Não se feche ao novo

“Adolescentes são aborrescentes” – é o que mais se ouve por aí. Mas ouvir não é o mesmo que escutar. Os psicanalistas bem sabem disso. O que se escuta é que os adultos estão geralmente fechados ao novo, sofrendo de uma nostalgia. Por isso, há uma recusa em querer saber o que fazer com seus filhos, alunos, sobrinhos, netos, que para eles são vítimas de uma modernidade que só tende a transformá-los no pior. “No meu tempo é que era bom”. “No meu tempo, havia respeito à autoridade e o professor era quem mandava na sala de aula!” É o pânico total.

Vale lembrar que os sujeitos que hoje denominamos adolescentes eram chamados até o século XX de jovens adultos e que viviam como eles. Agora, o que acontece é que fazemos esses “jovens adultos” – esses “adolescentes atuais” – viverem somente entre eles, em uma cultura que lhes é própria, tomando uns aos outros como modelo. Adultos encontram-se mergulhados na nostalgia e os jovens na excitação do novo e segregados em tribos.

Para entender a adolescência

No que diz respeito ao que chamamos hoje de adolescência, podemos indicar três pontos essenciais para a psicanálise se ocupar.

A saída da infância: seria o momento da puberdade, marcado pelas mudanças biológicas e psicológicas atestadas por Freud. A menstruação na menina, a primeira ejaculação nos meninos, o nascimento dos pelos pubianos, a mudança de voz, as espinhas… São todas essas mudanças que fazem o sujeito se perguntar quem é no mundo. Freud apresenta a chegada da puberdade como uma briga interior. Onde o jovem luta tentando deixar os ensinamentos passados pelo pai ideal para uma identificação dada de bandeja pela cultura. É a época de transvio, ambivalência, desamarração… Podemos dar muitos nomes a essa fase.

A diferença entre os sexos: como a menina se torna uma mulher e como o menino permanece um homem? Como relacionar-se com o outro sexo nas novas condições de seu corpo? Isso ocorre durante e após a puberdade. O que mostra definitivamente que a puberdade não é o mesmo que adolescência.

A entrada na vida adulta: talvez seja aqui que o termo contemporâneo “adolescência” mais se encaixe. É o momento em que o sujeito faz um uso muito particular do que encontrou durante a puberdade. Como lidará com essa sua nova existência? A questão é saber qual o preço que o adolescente pagará durante essa transição onde se coloca o corpo em risco, mas não se sabe ao certo que corpo é esse. E o que a psicanálise nos ensina é que esse corpo é marcado justamente pelo encontro com o desejo sexual, quando a vida sexual infantil é remanejada para uma vida na qual faz-se necessária a escolha de um objeto de amor.

A ajuda do psicólogo

Temos de escutar o que os adolescentes querem dizer, ajudando-os assim a enfrentar o insuportável dessa delicada transição em suas vidas.

Muitos adolescentes surgem em nossos consultórios através de seus pais angustiados por não saberem lidar com esse “novo ser” que habita a família. Outros, talvez a maioria ultimamente, são indicados pela escola, onde seu comportamento não parece de acordo com os preceitos determinados como corretos. Outros ainda chegam por conta própria, em busca de poder lidar com os tropeços da vida e com as tentativas de defesa diante desse novo corpo – drogas, bullying, amores, escolhas sexuais, dificuldade de relacionamento.

Nós, psicanalistas, podemos sim apostar que em todo e qualquer adolescente há um adulto em busca de si.


Créditos: Vittude https://www.vittude.com/

Luciana Ernanny Legey, parceira do site Vittude, é advogada, psicóloga clínica e praticante de psicanálise de orientação lacaniana. Atende crianças, jovens, adultos e terceira idade. Também trabalha em parcerias com advogados de Direito de Família.


 

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